animais humanos, animais...

Vivemos em uma grande comunidade de seres vivos. Porém, todo o nosso aprendizado sobre como devemos viver, nossos valores e comportamentos, estão baseados na observação e na imitação da comunidade humana em particular.

Como seres humanos, nos consideramos superiores as demais espécies e distantes da natureza. Por isso, muitas vezes deixamos de contemplar o sutil “ajuste de teias” de um ecossistema. A natureza, dizem as concepções judaico-cristãs, foi feita para servir ao homem, e este estaria predestinado a dominá-la, governá-la, subjugá-la.

É o que obedientemente estamos fazendo.Por considerar a natureza alheia a nós, não procuramos entender o real significado do equilíbrio ecológico: todas as espécies, sem exceção, dependem da harmonia do sistema para sobreviver. Nesse contexto, a palavra harmonia não significa a ausência de sofrimento e morte, até porque a morte é necessária para que haja vida.A morte de uma galinha é vida para a raposa, a morte da raposa é vida para milhões de bactérias e fungos que irão tornar o solo mais fértil.

E no fim das contas, outras galinhas se beneficiarão, todos os seres se beneficiam quando há equilíbrio e diversidade. Falta a nós a visão holística que os animais inconscientemente preservam.Talvez, também inconscientemente, achamos que tais leis naturais não se aplicam a nós, seres humanos. Por isso, nos permitimos o direito de arrancar da natureza muito mais do que o necessário para a nossa sobrevivência, destruindo o habitat de outras espécies e privilegiando apenas as espécies que consideramos “úteis”.

Estas são exploradas com crueldade ainda maior do que aquela empregada pelos “senhores” em seus escravos. Hoje animais são tratados como coisas, assim como negros e mulheres o foram por longos períodos na história (e em alguns lugares continuam sendo).Se pudéssemos dar voz à natureza e perguntássemos a ela “o que é o ser humano?”, penso que ficaríamos pouco a vontade com a resposta. Ao contrário do que muitos esperam, a natureza não diria: “o ser humano é o auge de toda a evolução e de todos os esforços e mudanças pelo qual passei por milhões de anos…”

Se alguém puder identificar um só indício de que somos uma espécie a parte, o clímax da criação, por favor me diga. Mas antes gostaria de esclarecer que argumentos como: “somos os únicos racionais” já caíram por terra há décadas. Assim como os ainda persistentes: “construímos ferramentas”, “temos linguagem”, “temos cultura”, “temos pensamento abstrato”, “temos consciência de nós mesmos”, entre muitas outras falácias de nosso antropocentrismo.Talvez então a natureza nos diga: “o ser humano é o único animal que destrói seu próprio habitat”.

Ou ainda: “é o único animal que pensa ser especial”. Não quero dizer com isso que a nossa espécie não tenha características especiais, o que é inegável. Mas assim como somos prodigiosos em, por exemplo, nos adaptarmos a ambientes diferentes, temos de concordar que outras espécies também possuem características especiais. Nunca conseguiremos mergulhar como uma foca, ter a visão de uma águia ou a memória fotográfica de um chimpanzé.Ainda assim ficamos tentados a pensar que as nossas características especiais são mais especiais que as outras, pois nos dão mais poder sobre a natureza (como se não fizéssemos parte dela).

Poder este que estamos usando para, em última análise, destruir nosso ecossistema. Enfim, somos uma espécie pouco coerente, muito complexa, diversa, autodestrutiva, mutante. Talvez esta última característica possa revelar alguma esperança. Podemos mudar radicalmente nosso comportamento como indivíduos, influenciando novas transformações, fazendo surgir uma nova ética, uma nova educação.

Só espero que não seja tarde demais.

• Este texto foi inspirado no livro “Ismael”, de Daniel Quinn.(Texto de Mariana Hoffmann - jornalista, educadora, vegana e ativista pela causa animal. Em 2008 deu início a um projeto de mídia independente - o fanzine bimestral “Informe Vegano”, uma publicação de cunho abolicionista).

2 comentários :

Gisa publicou o comentário número:

Belo texto! O que mais falta ao ser humano é humildade. Beijos

Anônimo publicou o comentário número:

Tomei conhecimento hoje deste espaço quero parabenizar seu trabalho Andréa e dizer que pode contar comigo.A Flavinha já havia me falado mas só hoje consegui ver de fato. Que o Senhor continue abençoando essas mãos abençoadas e que estes fofinha realmente encontrem um lar.Estarei divulgando,Não sei mexer muito com micro por isso não optei por uma identidade.Meu tel tá aí.
Claudia (2973-2691)



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